Breve História do Modern Arnis
Conteúdo originalmente publicado no livro: INTRODUÇÃO AO ARNIS MODERNO ISBN: 978-65-01-10264-1 Escrito pelo Professor Tales de Azevedo Este conteúdo é protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido sem autorização. Ao utilizar trechos deste material, favor referenciar a origem adequadamente.
Grão Mestre Remy Amador Presas
Remy Presas nasceu em 19 de dezembro de 1936, na pitoresca vila de pescadores de Hinigaran, em Negros Ocidental, nas Filipinas. A tranquilidade inicial da região foi interrompida pela iminência da Segunda Guerra Mundial e pela subsequente ocupação japonesa nas Filipinas. Seu pai, José Presas, não era apenas um comerciante, mas também tenente no Movimento Guerrilheiro dos EUA. Antes da invasão japonesa, José levou sua família e alguns guerrilheiros para as montanhas de Hinoba-an, onde, de 1941 a 1945, treinou seus companheiros nas técnicas mortais do arnis, preparando-os para os confrontos. As operações lideradas por José Presas contra os japoneses tornaram-se lendárias, com os guerrilheiros frequentemente realizando sabotagens que causavam danos significativos às forças invasoras. Apesar dos esforços dos japoneses para capturá-los, os guerrilheiros sempre escapavam, refugiando-se nas montanhas.
A guerra transformou as Filipinas em um cenário de violência e adversidade. Desde muito jovem, Remy ouvia as histórias dos confrontos com os japoneses e testemunhava os esforços de resistência de seu pai. Ele demonstrava curiosidade e fascínio pelo treinamento militar, frequentemente espiando secretamente as sessões de treinamento dos guerrilheiros. Embora crianças não fossem permitidas nessas sessões, Remy, impulsionado por sua curiosidade, subia em pedras para espiar por entre as folhas de nipa. Aos seis anos, Remy pediu ao seu avô, Leon Bonco Presas, para pegar uma espada com o intuito de cortar um galho. Leon, intrigado, seguiu o neto e, após ver a habilidade de Remy, decidiu ensiná-lo. Leon Presas, um veterano da Guerra Hispano-Americana e um formidável arnisador, treinava Remy diariamente nas montanhas. Sem parceiro para treinar, Remy praticava sozinho, usando árvores como oponentes. No início, as árvores "contra-atacavam" e o acertavam, mas logo Remy aprendeu a ser mais rápido.
Em Hinigaran, a eskrima era chamada de "baston". Com poucas oportunidades educacionais durante a guerra, Remy passava o tempo praticando os movimentos básicos repetidamente. Quando estava prestes a completar sete anos, seu pai organizou uma avaliação para seus soldados. Leon Presas sugeriu que Remy fizesse uma demonstração, o que surpreendeu a todos. José, que desejava que o filho seguisse uma carreira de empresário, não queria que ele se envolvesse militarmente, mas Leon continuou treinando Remy. Durante a guerra, o uso de armas tradicionais filipinas, como o bolo, era comum entre os guerrilheiros. Em uma ocasião, Remy encontrou uma pistola .45 e, acidentalmente, feriu Maria Billammore, esposa do coronel Billammore, com um tiro de raspão. Por ser uma criança, Remy foi repreendido, e seu pai, punido.
Em 1943, as Filipinas foram totalmente ocupadas pelos japoneses. José Presas e seus companheiros guerreiros foram obrigados a se deslocar constantemente pelas montanhas de Negros Ocidental e Oriental. Remy, crescido nesse ambiente de constante treinamento para batalha, desenvolveu uma habilidade considerável em eskrima. Quando o General McArthur retornou às Filipinas, encontrou um país onde os japoneses estavam consideravelmente enfraquecidos pela resistência filipina. Com a rendição japonesa em 1945, a guerra terminou. A família Presas retornou a Hinigaran, onde Remy enfrentou o desafio de se adaptar a uma vida escolar normal. No entanto, muitos dos jovens, incluindo Remy, não estavam acostumados com a paz e enfrentavam desafios como o bullying. Remy rapidamente se tornou habilidoso em se defender, o que eventualmente o levou a ser visto como um valentão.
Aos nove anos, Remy testemunhou seu primeiro duelo de arnis, o que o fez perceber os perigos da prática quando utilizada de forma irresponsável. Isso o impactou profundamente, levando-o a refletir sobre a importância do uso responsável das artes de combate. Durante seus anos no Instituto Hinigaran, Remy enfrentou dificuldades típicas de um adolescente magro e pequeno, frequentemente precisando usar suas habilidades de luta para se defender. A prática do boxe era comum na escola, e Remy se destacava nas disputas, o que reforçava sua reputação de brigão. A situação se agravou quando, em uma briga, ele quebrou os dentes de um colega, resultando em sua suspensão.
Aos 14 anos, Remy Presas, pressionado por seus pais a buscar uma educação formal e desejando aprofundar-se nas artes de combate, deixou sua casa e foi para Cebu. Lá, ficou sob a tutela de seu tio Fredo Presas, uma figura influente localmente. Para proteger Remy, Fredo impôs restrições a seus movimentos, mas o jovem desejava independência e acabou exigindo o direito de trabalhar. Fredo concordou, desde que Remy não usasse o sobrenome Presas para proteger a reputação da família.
Remy aceitou e começou a trabalhar sob o nome de Remy Amador na Companhia Steban. No porto, ele conheceu Rodolfo Moncal, que o introduziu ao estilo Balintawak. Após cerca de um ano de treinamento, Remy se destacou como um aluno excepcional, atraindo a atenção do Grande Mestre Anciong Bacon. Bacon o convidou para treinar diretamente com ele, impressionado com a habilidade e o potencial do jovem. No Balintawak, Remy encontrou um ambiente rigoroso, onde o sparring full contact e o uso de equipamentos pesados eram comuns. Bacon incentivava o desenvolvimento de força, resistência e técnica, moldando Remy como um dos melhores praticantes da época. Remy participou de muitos combates internos e contra os Doce Pares, demonstrando sua habilidade e aumentando sua reputação. No entanto, ele começou a questionar a brutalidade desses confrontos, desejando um enfoque mais disciplinado e seguro, onde a técnica e a autodefesa fossem priorizadas sobre a violência.
Após um confronto notório com Bebe Biaz, onde Remy saiu vitorioso, ele decidiu que era hora de seguir seu próprio caminho. Com a aprovação de Bacon, Remy deixou Cebu em 1957, comprometendo-se a desenvolver uma nova abordagem para a Eskrima, com a bênção de Bacon para fundar sua própria escola, ainda que sem utilizar o nome Balintawak. Assim nasceu o Modern Arnis, um sistema que buscava equilibrar a tradição com a segurança e a educação, promovendo uma prática mais consciente e menos violenta das artes marciais filipinas.
O Nascimento do Arnis Moderno
Em 1957, após deixar Cebu, Remy dirigiu-se à cidade de Bacolod, depois de uma breve estadia em Hinigaran. Bacolod era um ponto de encontro vibrante para artistas marciais e praticantes de Arnis de todo o país. A reputação de Remy, com seu domínio do Balintawak, destacou-se na região, conferindo-lhe uma nova identidade no cenário das artes marciais e impulsionando sua fama. Lá, ele matriculou-se em aulas noturnas para retomar e concluir seus estudos, enquanto, durante o dia, buscava oportunidades de trabalho em espaços dedicados à educação física e práticas esportivas. Paralelamente, dedicava-se ao ensino do Arnis. Foi em 1958 que Remy conheceu os irmãos Romy e Rodolfo Lisondra, que se tornaram seus alunos. Ao longo do tempo, os irmãos Lisondra destacaram-se como alguns dos mais dedicados discípulos de Presas, mantendo viva a tradição do Arnis ao longo de suas vidas.
No entanto, Remy enfrentou desafios iniciais ao tentar atrair alunos para sua prática. Muitos estavam mais interessados em estilos estrangeiros como o Karatê ou o Judô. Além disso, a abordagem tradicional do Arnis, que envolvia golpes diretos com bastões, gerava preocupações quanto às lesões, desencorajando potenciais praticantes. Foi nesse contexto que Remy viu a oportunidade de inovar. Para modernizar e tornar o Arnis mais atrativo, ele introduziu mudanças significativas em sua prática. Inspirado pelo modelo bem-sucedido do Karatê, implementou uniformes padronizados, um sistema de graduação por faixas e a incorporação de Katas ao treinamento. Essas reformas visavam tornar o Arnis mais acessível e seguro, especialmente para uma nova geração de interessados. Ao associar o Arnis ao Karatê, Remy adotou uma estratégia de marketing perspicaz, apelidando seu sistema de "Karatê Filipino". Essa abordagem inteligente realçava as semelhanças entre as duas disciplinas, aproveitando a popularidade já estabelecida do Karatê para atrair mais adeptos ao Arnis.
Foi nesse período que Remy conheceu Rosemary Pascual. Apresentados por um amigo em comum, o vínculo entre eles floresceu rapidamente, culminando em seu casamento em 27 de julho de 1961. Ainda em 1961, por intermédio da família de Rosemary, Remy ingressou no La Salle College, uma instituição de renome que desempenhava um papel vital na educação da juventude filipina. Fundado pelos Irmãos Cristãos de La Salle, o La Salle College era conhecido por sua abordagem educacional completa, que buscava desenvolver não apenas o intelecto, mas também o caráter e as habilidades práticas dos alunos. Durante sua estadia lá, Remy não apenas aprimorou seus conhecimentos acadêmicos, mas também começou a expandir suas atividades relacionadas ao Arnis, compartilhando suas habilidades com colegas e interessados.
Dois anos depois, em 1963, Remy deu continuidade à sua busca por conhecimento ao ingressar na Universidade de Negros Ocidental - Recoletos (UNO-R). Fundada pelos frades recoletos, a UNO-R era uma instituição de ensino superior comprometida em oferecer uma educação de qualidade e acessível à comunidade local. Além de seus estudos acadêmicos, Remy encontrou na UNO-R uma plataforma para desenvolver ainda mais suas habilidades em Arnis. Ele começou a montar suas primeiras turmas de Arnis, com o objetivo de capacitar os alunos com habilidades de autodefesa urbanas, enquanto priorizava sua segurança. Essas experiências educacionais foram cruciais para o desenvolvimento de Remy como mestre de Arnis. Elas não apenas ampliaram seu conhecimento acadêmico, mas também forneceram um ambiente propício para ele compartilhar e aprimorar suas habilidades em artes marciais. Foi durante esse período que Remy começou a vislumbrar uma nova direção para o Arnis, inspirando-se nas artes marciais japonesas e buscando modernizá-lo. Introduzindo padrões, hierarquias e um foco renovado no bem-estar dos praticantes, Remy iniciou uma transformação que moldaria o futuro do Arnis.
Remy Presas e os Doromals, especialmente Pedro Doromal Jr., desempenharam papéis significativos no desenvolvimento e disseminação do Arnis em Bacolod e arredores. Pedro Doromal Jr. era um arnisador proeminente, conhecido por sua habilidade e posição como comandante corporativo da unidade de formação de reservistas na escola. Quando surgiram rumores sobre um novo instrutor de Karatê com uma reputação impecável como lutador de Arnis, Doromal viu uma oportunidade de testar sua própria habilidade e desafiou Remy para uma luta pública.
Inicialmente, Remy recusou os desafios de Doromal para evitar conflitos, mas finalmente concordou, cedendo à insistência de Doromal. No confronto, Remy desarmou Doromal repetidamente e mostrou sua superioridade, levando Doromal a reconhecer sua habilidade e decidir estudar com ele. Este episódio não apenas fortaleceu a reputação de Remy como instrutor, mas também iniciou uma amizade entre os dois. A parceria com Pedro Doromal Jr. marcou uma fase de renovação nas artes marciais em Bacolod. Sob a orientação de Doromal, Remy fundou a escola Negros Martial Arts Self Defense, refletindo sua visão inovadora e compromisso com o desenvolvimento da comunidade marcial.
Em busca de novos desafios, Remy ouviu falar de Meling Ancong, um lutador conhecido por sua implacabilidade. Decidido a testar suas habilidades, Remy, acompanhado por Doromal, foi a Lacalota para encontrar Meling. Embora Meling não tenha aparecido inicialmente, Remy eventualmente conseguiu se encontrar com ele. No confronto, Remy demonstrou agilidade e habilidade, bloqueando todos os ataques de Meling. Mantendo uma atitude respeitosa, Remy elogiou a habilidade de Meling, evitando qualquer escalada para violência.
Impressionado com a abordagem de Remy, Esco Lacador, ex-instrutor de Meling, elogiou Remy e escreveu cartas de recomendação para ele, levando a novas oportunidades em Bacolod. A reputação de Remy como mestre excepcional cresceu, atraindo uma clientela diversificada, incluindo figuras proeminentes como o filho do prefeito e o filho do congressista Ramon Guanson. Mesmo Amerocen, inicialmente interessado em humilhar Remy, tornou-se seu aluno por quase dois anos, proporcionando a Remy valiosas conexões na comunidade e recursos para estabelecer seu próprio negócio.
Naquela época, o nome "Modern Arnis" ainda não existia. Sem categorizações numéricas ou estilos definidos, o sistema era conhecido como Wedo (do inglês "We Do"), uma expressão que indicava uma abordagem prática e direta: "Nós fazemos isso e aquilo". O Sinawali, hoje reconhecido como um componente essencial do Arnis, era chamado pelo seu nome antigo. O Arnis era simplesmente referido como Baston, enquanto o Tapi-Tapi era conhecido como "Kurridas", destacando seu foco em movimentos rápidos e curtos, ideais para o combate em distâncias próximas. Na prática, o foco estava no dikititan, o combate de curta distância, enfatizando tanto a defesa quanto o ataque em intervalos próximos. O desarmamento não era uma prioridade imediata; primeiro, os alunos dominavam os fundamentos e conceitos básicos do sistema. Isso incluía os fundamentos e o Sinawali, que serviam como a base essencial do Arnis. Os praticantes aprendiam as posições corretas, os bloqueios adequados e os padrões de ataque e defesa.
O treinamento abrangia o uso tanto do bastão único quanto do duplo, com técnicas específicas para cada configuração. Para bastões duplos, havia uma ênfase na utilização de bastões longos, expandindo as opções de combate e defesa. Quando se tratava de defesa contra faca, o método preferido envolvia o uso do Duplo Sinawali com bastões duplos. Esta abordagem tradicional, ancorada nos princípios do Wedo, refletia uma época em que o Arnis, ou Baston, e suas variantes eram integralmente incorporados à prática marcial das Filipinas. Nas origens do Arnis, os bloqueios eram realizados diretamente nos bastões, com uma tentativa deliberada de agarrar firmemente os bastões do oponente. Esse era o grande segredo que o Grão-Mestre Presas havia descoberto para ser bem-sucedido em seus embates: uma vez que o contato era estabelecido, o adversário perdia sua mobilidade, sendo controlado e desarmado. As lutas eram rápidas, geralmente não ultrapassando cinco segundos, e frequentemente envolviam materiais rígidos como Kamagong e Bahi, reservando o rattan apenas para o treinamento. Nessas lutas, não havia regras formais; a batalha continuava até que um dos combatentes se rendesse, geralmente indicado pelo reconhecimento de "eu desisto". Essa abordagem exigia precisão e eficácia extremas nas respostas dos praticantes.
Uma das principais inovações de Remy foi a introdução de padrões de movimentos conhecidos como "Anyo" (ou Katas, em termos de artes marciais japonesas). Estes padrões não apenas facilitavam o aprendizado e a memorização das técnicas, mas também permitiam que os praticantes desenvolvessem fluidez e precisão. Além disso, Remy adaptou o sistema de faixas, comum em artes marciais como o Karatê, para o Modern Arnis. Isso não só incentivava o progresso contínuo dos alunos, mas também introduzia um elemento de motivação e reconhecimento, crucial para o desenvolvimento pessoal dos praticantes. O conceito de "Tapi-Tapi" é outro elemento central no Modern Arnis, representando uma filosofia de contra-ataque contínuo. Esta técnica envolve uma série de movimentos de controle e neutralização do oponente, enfatizando a habilidade de responder imediatamente a qualquer ataque. O Tapi-Tapi simboliza a fluidez e adaptabilidade do Modern Arnis, sendo essencial para a compreensão de como as técnicas podem ser aplicadas de maneira dinâmica e eficaz em situações reais de combate.
No ensino do Modern Arnis, Remy também enfatizava a aplicabilidade prática das técnicas. Ele sempre ensinou que qualquer objeto nas mãos de um praticante poderia ser considerado uma arma, quebrando a distinção tradicional entre bastões e lâminas. Essa filosofia não só enriqueceu a compreensão dos alunos sobre as artes marciais, mas também expandiu as possibilidades de aplicação do Modern Arnis em contextos de defesa pessoal. Foi nesse período que o gênio de Rosemary desempenhou um papel crucial e influente. Sua experiência como educadora respeitada trouxe uma abordagem pedagógica refinada ao ensino de Remy, contribuindo para dar forma à maneira como as técnicas de bastão eram ensinadas e compreendidas. Sua mente criativa foi responsável pela nomenclatura de técnicas emblemáticas, como a sequência dos "doze golpes", destacando sua contribuição única para o desenvolvimento do sistema.
Em 11 de dezembro de 1964, Mestre Bebing Lisondra e seu irmão Rudolfo “Rudy” Lisondra se tornaram os primeiros a receber a faixa preta em Modern Arnis. Em 1968, Bebing Lisondra assumiu o cargo de instrutor assistente sob a orientação de Remy Presas, período durante o qual o nome "Modern Arnis" começou a ser oficialmente utilizado, uma sugestão de Rosemary Presas. Nesse período, Rosemary desempenhou diversas funções importantes, incluindo a gestão de comunicações, organização de eventos e atuando como uma ponte entre o Modern Arnis e o mundo exterior.
Em 1968, Remy concluiu sua formação em Educação, com ênfase em Educação Física, com o apoio de Rosemary, o que contribuiu significativamente para seu sucesso. Seus negócios prosperaram e ele também começou a lecionar aulas de educação física. Remy estabeleceu uma marca registrada: calças vermelhas e camiseta branca, que se tornaram o uniforme original do Modern Arnis, inspirado nos Katipuneros, combatentes filipinos pela liberdade que tradicionalmente usavam essas cores, simbolizando a luta pela independência. As faixas começaram a ser usadas em Bacolod, principalmente para distinguir os alunos mais proficientes, sem a necessidade de exames formais naquela época.
No mesmo ano, Remy enfrentou uma decisão que mudaria o curso de sua vida. Durante uma de suas sessões de verão na Rizal Memorial Sports Arena, em Manila, um grupo influente, incluindo o Coronel Arsenio de Borja, Sr. Phillip Moncerrat e o Professor Jose Gregorio, notou sua habilidade e paixão pelo Arnis. Eles convidaram Remy a continuar sua jornada em Manila, reconhecendo o potencial nacional e global de sua arte. Embora essa mudança representasse deixar para trás sua fundação em Bacolod e os negócios que sustentavam sua família, Remy viu nisso uma oportunidade única de compartilhar o Arnis com o mundo.
Aceitando o convite em 1969, Remy se mudou para Manila com sua família e seus irmãos Ernesto e Roberto. Lá, ele ensinou Arnis a seus compatriotas e buscou expandir sua influência além das fronteiras filipinas. Com o objetivo de alcançar mais pessoas, ele inaugurou um novo ginásio e fundou a Organização Nacional Amadora de Karatê (NAKO). Através da NAKO, Remy começou a ensinar em diversas instituições educacionais em Manila, promovendo o Arnis como uma arte marcial de nível mundial, ao lado do Karatê e do Judô. Durante esse período, ele também fundou a Modern Arnis Federation of the Philippines (MAFP).
As cerimônias de graduação em Arnis tornaram-se eventos célebres no cenário esportivo filipino. Generoso por natureza, Remy frequentemente dispensava estudantes com dificuldades financeiras das taxas de participação. Seus espetáculos chamavam a atenção, inclusive de figuras influentes como o então presidente Ferdinand Marcos, o que impulsionou ainda mais o interesse dos alunos e levou à fundação da Federação de Arnis Moderno das Filipinas.
Em 1970, Remy foi convidado para treinar uma unidade policial no Japão. Essa distinção, combinada com sua expertise em Judô e Luta Livre, solidificou sua reputação no cenário internacional das artes marciais, elevando o Modern Arnis a um patamar globalmente reconhecido. No mesmo ano, em Manila, Remy conheceu Rodel Dagooc, um jovem karateka de Iloilo. Após se inscrever na NAKO, Dagooc progrediu rapidamente, alcançando o 5º Dan. Seu comprometimento culminou na conquista da faixa preta (Lakan) em Arnis, em 1972.
No ano seguinte, em 1973, Remy recebeu um convite para treinar uma força policial na Califórnia, marcando seu primeiro contato com os Estados Unidos. Sua jornada internacional continuou em 1974, quando retornou ao Japão como representante do Ministério do Turismo das Filipinas na Feira de Turismo Asiática. Em reconhecimento aos seus serviços, o governo filipino o honrou com um passaporte de status de embaixador. Mais tarde, em Kuala Lumpur, Malásia, ele participou da primeira Competição Internacional de Artes Marciais, acompanhado de sua filha Mary Ann, que sempre compartilhou de sua jornada na disseminação das artes marciais.
Durante sua estadia em Manila, Remy expandiu seus horizontes ao mergulhar no mundo do cinema, assumindo a direção de artes marciais no filme "The Pacific Connection", onde colaborou com astros renomados. Foi nesse contexto que ele conheceu Rolando Pintoy Dantes, mais conhecido como Mestre Roland Dantes. Além de uma carreira notável no cinema, Dantes se destacou no fisiculturismo, conquistando o título de "Mr. Philippines" cinco vezes entre 1971 e 1980 e competindo em torneios de alto nível, como "Mr. Universe" e "Mr. World".
A colaboração entre Dantes e Remy ultrapassou os limites da produção de "The Pacific Connection". Eles desenvolveram uma relação mestre-discípulo profunda, culminando com Roland Dantes sendo o primeiro a receber a faixa preta de 8º grau, concedida por Remy anos mais tarde. Vale ressaltar que Dantes também teve uma trajetória notável como policial, tendo se formado na Academia Nacional de Polícia das Filipinas e se estabelecido como preparador físico.
Em 19 de março de 1974, o Conselho Municipal de Iloilo, Filipinas, reconheceu o valor inestimável do trabalho de Remy A. Presas ao revitalizar o Arnis. Através da Resolução nº 388, ele foi nomeado como o renovador do Arnis Filipino. Seus feitos transcenderam esse reconhecimento. Ele foi homenageado por diversas entidades renomadas, incluindo a Força Aérea das Filipinas e o Colégio Nacional de Educação Física. Além disso, Presas foi duplamente honrado com o prêmio SiglaLakas, um título que reflete "habilidade, força e poder", concedido a atletas que se destacam em suas modalidades esportivas.
Na década de 1970, Remy Presas teve uma oportunidade marcante ao estabelecer os primeiros grupos de Modern Arnis nos Estados Unidos. O reconhecimento do potencial do Modern Arnis pelo governo filipino resultou em uma turnê mundial patrocinada para Remy, acompanhada da honra de receber um passaporte diplomático. Essa jornada obteve grande êxito, especialmente nos Estados Unidos e Canadá, onde muitos sugeriram que Remy considerasse estabelecer-se permanentemente, vislumbrando o crescimento da arte além das fronteiras.
Enquanto Remy Presas expandia seus horizontes internacionalmente, ele enfrentava desafios em sua terra natal, as Filipinas. Descobriu que alguns de seus alunos estavam envolvidos em práticas ilícitas, como a adulteração de ingressos para os torneios que ele organizava. Desapontado, Remy decidiu expulsá-los. Em resposta, esses ex-alunos fundaram a NARAPHIL (Associação Nacional de Arnis das Filipinas), sob a liderança do General Fabian Ver, que rapidamente ganhou influência. No entanto, essa ascensão não foi isenta de controvérsias, com tentativas de coerção para que as escolas de Arnis se afiliassem à organização, gerando tensões que culminaram em ameaças de morte contra Remy.
Diante dessas ameaças e do ambiente hostil em seu país, Remy solicitou asilo político nos Estados Unidos em 1976. Esse momento foi marcante para sua família, especialmente para seu pai, José Presas, e seu filho, Remy Presas Jr., que o acompanharam ao aeroporto. Lá, momentos antes do avião decolar, soldados entraram a bordo, causando apreensão em Remy. No entanto, eles passaram por ele e removeram um passageiro que estava sentado atrás, levando-o para fora do avião. Remy, por sua vez, possuía dois passaportes, um pessoal e outro oficial ou diplomático. Sua viagem aos Estados Unidos não foi como exilado, mas como embaixador da cultura filipina.
Com o asilo concedido, Remy se estabeleceu em São Francisco, Califórnia, iniciando um novo capítulo em sua vida. No entanto, ao chegar aos Estados Unidos, Remy não começou imediatamente a ensinar. Ele enfrentou um período de depressão, até que parentes o incentivaram, lembrando-o de sua grandeza como mestre. Esse estímulo foi fundamental para que ele superasse suas dificuldades e voltasse a ensinar em São Francisco e áreas circunvizinhas, incluindo Sacramento. Ele encontrou um cenário de artes marciais dominado pelo Karatê, o que exigiu uma adaptação cuidadosa para atrair alunos e se integrar ao sistema já estabelecido. Remy introduziu o conceito de "Arte dentro de sua arte", permitindo que ele alinhasse seu ensino com as formas e disciplinas já familiares aos alunos, enquanto incorporava os princípios e técnicas distintas do Arnis. Dessa forma, ele conseguiu oferecer uma experiência de aprendizado que era tanto reconhecível quanto inovadora, atraindo um público diversificado e promovendo a apreciação das artes marciais filipinas nos Estados Unidos.
Nos anos 1980, Remy Presas embarcou em uma extensa jornada pelos Estados Unidos, percorrendo diferentes estados para ministrar seminários e workshops. Sua presença destacada no cenário das artes marciais foi reconhecida em 1982, quando foi introduzido ao Hall da Fama da revista Black Belt como "Instrutor do Ano". Este foi apenas o começo de uma década repleta de marcos importantes para Presas. Em 1983, seu compromisso com o ensino e a difusão do Arnis foi solidificado com o lançamento de seu terceiro livro, "Modern Arnis: Filipino Art of Stick Fighting". Esta obra não apenas cimentou sua posição como o "Pai do Arnis Moderno" nos Estados Unidos, mas também abriu portas para sua crescente influência global. Ao longo da década, sua imagem adornou a capa de várias revistas especializadas, e ele produziu uma série de vídeos instrucionais que expandiram ainda mais sua base de alunos, estabelecendo-o como um mestre filipino proeminente no cenário mundial. Ainda em 1983, Presas organizou seu primeiro acampamento em West Virginia, um evento que se tornou um marco em sua carreira.
À medida que sua popularidade e experiência aumentavam, Presas diversificou seu currículo e sua abordagem de ensino para atender a uma ampla gama de alunos, desde iniciantes até avançados. Ele introduziu novos uniformes e um sistema de graduação, semelhante ao do Karatê. Além disso, passou a enfatizar ainda mais a aplicabilidade prática das técnicas de Arnis, especialmente em situações de defesa pessoal e no contexto moderno. Seu compromisso com a eficácia e a relevância das habilidades ensinadas solidificou sua reputação como um mestre visionário. Ao expandir suas conexões e parcerias com outros instrutores e escolas de Arnis em diferentes estados, Presas desempenhou um papel crucial na expansão da presença do Modern Arnis por todo o país. Pioneiros como Donald Zangi, que introduziu o Modern Arnis em Buffalo, e John Bryant, que estabeleceu uma das primeiras academias dedicadas exclusivamente ao Arnis e foi aluno de Zangi, foram fundamentais nesse processo. O lançamento do filme "Karate Kid" em 1984 também contribuiu significativamente para a divulgação do Modern Arnis, impulsionando ainda mais sua popularidade e influência.
Nos Estados Unidos, Remy Presas conheceu Wally Jay, um renomado mestre de artes marciais americano de descendência chinesa, nascido Wah Leong Jay em Honolulu. Jay era especialista em jujutsu e judô, além de ser o fundador do Small Circle JuJitsu, uma técnica que se concentra em ações simultâneas de empurrar/puxar realizadas de forma circular, maximizando a pressão sobre as articulações com movimentos pequenos e eficientes.
O encontro entre Wally Jay e Remy Presas teve um impacto significativo no desenvolvimento do Modern Arnis. Antes de conhecer Jay, Presas utilizava técnicas de imobilização com movimentos mais amplos. Após a interação com Jay e sua introdução ao Small Circle JuJitsu, os movimentos de Presas tornaram-se mais precisos e refinados. Ele acabou integrando completamente o conceito do Small Circle JuJitsu em seu próprio sistema, Modern Arnis. A amizade entre Jay e Presas cresceu ao longo dos anos, com ambos os mestres compartilhando insights e técnicas, enriquecendo mutuamente suas artes marciais.
Durante os anos 90, Jay e Presas viajaram juntos pelos Estados Unidos e pelo mundo, divulgando o Small Circle JuJitsu e o Modern Arnis, acompanhados por George Dillman, um renomado especialista em kempo karate e defensor das técnicas de pontos de pressão, conhecidas como kyūsho jutsu. Dillman, nascido na Filadélfia, começou nas artes marciais pelo boxe e depois se voltou para o karatê em 1961. Ele incorporou técnicas de pontos de pressão em seu ensino, chamando-o de Ryukyu kempo karate, após aprofundar-se no kyūsho jutsu com mestres como Hohan Soken e Seiyu Oyata.
A colaboração entre Presas, Jay e Dillman revelou-se formidável. Cada um com sua especialidade única, eles combinaram seus conhecimentos para oferecer seminários abrangentes e inovadores. Viajando juntos pelos Estados Unidos, realizaram uma série de workshops que atraíram muitos entusiastas das artes marciais. Essa tríade de mestres não apenas enriqueceu o cenário das artes marciais nos Estados Unidos, mas também solidificou seus respectivos legados como pioneiros e inovadores em seus campos.
Em 1986, as Filipinas passaram por um momento de grandes transformações políticas. Inspirado por essas mudanças Remy Presas retornou ao país em 1987. Ele visitou o Silahis Hotel em Manila com o objetivo de fortalecer a presença do Modern Arnis nas Filipinas. Durante essa estadia, Presas conduziu seminários, treinou novos instrutores e se reconectou com mestres e praticantes antigos do Arnis, fortalecendo o Modern Arnis no país e reafirmando sua ligação com sua terra natal. Em 1987, o Arnis foi oficialmente reconhecido como disciplina pelo Comitê Olímpico Filipino. Os alicerces da Federação Internacional de Modern Arnis nas Filipinas (IMAFP) foram lançados em 1995, quando o Grão-Mestre Remy Presas instruiu seu aluno, Shishir Inocalla, a reunir antigos e novos alunos de Arnis Moderno. A IMAFP foi formalmente fundada em fevereiro de 1999, em Manila. O processo de desenvolvimento culminou em 2000, quando Remy Presas inaugurou o primeiro Conselho de Administração e oficiais da IMAFP, que incluía mestres como Shishir Inocalla e Bambit Dulay.
Durante os anos 90, Remy também conheceu Yvette Wong, uma renomada professora de Kung Fu e Tai Chi. Apesar de estar separado emocionalmente de sua primeira esposa, Rose, desde o final da década de 70, eles continuavam legalmente casados devido às leis filipinas que proíbem o divórcio. Com Yvette, Remy formou uma nova união. Infelizmente, no final da década, um diagnóstico de tumor cerebral o levou a se recolher em Victoria, B.C., Canadá. Mesmo diante dessa adversidade, GM Presas manteve uma atitude otimista e preparou um plano estratégico para assegurar o futuro do Modern Arnis. Remy Presas faleceu em 28 de agosto de 2001, deixando um legado duradouro no mundo das artes marciais. Sua contribuição para o desenvolvimento e promoção do Modern Arnis é reconhecida globalmente, e sua influência continua a ser sentida por praticantes e instrutores em todo o mundo.